I
Ninguém precisa ir à parte alguma. Como seria bom que todos soubessem disso!
Se apenas soubesse quem realmente sou. E se parasse de me comportar como penso ser, saberia quem sou.
Se ao menos o MANIQUEÍSTA que penso ser, me permitisse ser o que de fato sou, o “sim” e o “não” viveriam reconciliados na abençoada aceitação da experiência de Ser Único.
Em religião, todas as palavras são obcenas. Qualquer pessoa que se mostrasse eloquente acerca de Buda, Deus ou Cristo deveria ter a boca lavada com sabão carbólico.
A aspiração de todas as religiões de eternizar somente o “sim” em cada par de opostos é irrealizável porque contraria a natureza das coisas. O MANIQUEÍSTA isolado, que penso ser se auto condena uma repetição infindável de frustrações e está em conflito permanente com outros MANIQUEÍSTAS igualmente frustrados e sem suas aspirações.
Conflitos e frustrações- tema de toda história e de quase toda biografia.
“Eu lhes mostro o sofrimento”, disse Buda realisticamente. Porém ele também mostrou o fim do sofrimento - o autoconhecimento, a aceitação total e a abençoada experiência de Ser Único.
(...)
III
(...)
Mas não é fingindo ser outro alguém, mesmo alguém sábio e superlativamente bom, que deixamos de ser meros MANIQUEÍSTAS cegos e isolados para nos transformarmos em bons seres. O verdadeiro conhecimento de quem nós somos é o que nos faz Bons; para sabermos quem realmente somos devemos conhecer nos mínimos detalhes aquilo que pensamos ser. Desse modo descobrimos o que essa falsa ideia nos obriga a sentir e a fazer. Um simples momento de conhecimento claro e completo do que pensamos ser, mas que na realidade não somos, põe um fim momentâneo ao enigma MANIQUEÍSTA.
(...)
(Aldous Huxley – “A Ilha”)
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